Os meus FEMINISTAS e Eu

14.7.18


Há uns dias atrás no instagram da nossa família perguntaram-me o que fazia, como educava os meus filhos, para quem não sabe, três rapazes maravilhosos de 14, 12 e 10 anos, para que fossem feministas.
A esta hora talvez algumas pessoas revirem os olhos e pensem que quero fazer dos meus filhos uma moda qualquer ou "maricas" como já me disseram. Se eu acho isto absurdo? Acho. Se detestei escrevê-lo? Claro. Mas é preciso expor a realidade e não andá-la a esconder ou a contá-la com palavras bonitas.

Quando falo da educação dos meus filhos, falo sempre antes da minha educação e da do pai. É egocentrismo? Claro que não e passo a explicar porquê.
Tinha tudo para me sentir um ser inferior. Nasci numa família onde o ser masculino era rei e senhor, quanto mais garanhão e javardo verbalmente fosse mais macho era. 
Violência física era sem medida, arrumar a casa para os senhores desarrumarem cabia a quem nasceu com uma vagina. E ai dela que tentasse por alguma ordem, era calada e desvalorizada em menos de alguns segundos.

Lembro-me desde sempre de me sentir revoltada, de abrir a boca para contestar mesmo que isso tivesse como consequência uma valente chapada nos dentes como eles diziam.
Se isso me fazia calar? NUNCA.
Mais tarde, como já não me podiam calar com violência ouvia coisas como "tens a mania", "vai para a cozinha que é lá o teu lugar", claro que nunca mostrei o quanto estas palavras desvalorizantes podem destruir a estima que temos de nós mesmas. Mas, com o tempo e com o respeito do primeiro Homem da minha vida, aprendi a enraizar no meu pensamento que o meu valor e o de outras Mulheres não seria definido pelo sexo com que tinha nascido. O meu sexo não define quem sou.
Sempre soube que o conhecimento, a cultura geral, a convivência com pessoas íntegras seriam o meu melhor escudo.

Com muito trabalho tornei-me numa Mulher segura de si, numa Mulher defensora da IGUALDADE entre seres humanos, numa Mulher que dá a mão e puxa para cima qualquer pessoa, seja ela de que sexo for.
É isto que me faz alguma confusão, misturarem feminismo com uma corrente contra os Homens. Não é isso que nós Mulheres ambicionamos, não é isso que exigimos.

Feminismo é igualdade, é lutar para que possamos ter os mesmos direitos, sermos reconhecidas pelas nossas capacidades e não por um corpo.
Se nos devemos unir para conquistar o lugar de igualdade que merecemos? Claro que sim. Mas não devemos ser só Mulheres juntas, nada disso. Devemos todos unir forças para que sejamos iguais. Não vale a pena criar grupos de Mulheres que excluem Homens porque a luta deve e tem de ser de todos.
Não achem que por terem filhos de sexo masculino esta luta não vos diz respeito, muito pelo contrário!
Lembro-me de ouvir "coitadinhos dos meninos, então eles é que limpam o quarto deles? Mas eles não sabem, ainda vais fazer deles umas fadas do lar".
Conseguem imaginar a minha reacção? Quem me conhece sabe que fervo em pouca água, sabe que não tenho papas na língua e quando toca o meu estilo de vida, a educação dos meus filhos ou simplesmente as minhas escolhas torno-me numa verdadeira besta. Não ofendo, mas sou sarcástica, coloco tanta agressividade nas palavras que as pessoas ou ficam sem palavras ou acabam por dizer "não é preciso falares assim" o que me faz trazer à baila a minha resposta standard "se não fosse preciso não o tinha feito e posso continuar que tenho sempre mais qualquer coisa para dizer. É à escolha do freguês".

Onde é que nasceu a ideia de que os meninos são menos eficazes nas lides domésticas que as meninas e vice-versa?
Já pensaram no quão absurdo isto é? Temos corpos diferentes, completamo-nos uns aos outros e ainda bem!
O meu marido há uns dias dizia-me "Com uma Mãe destas os nossos filhos serão sempre grandes Homens", eu respondi-lhe "Com os exemplos que o Pai lhes dá eles serão sempre uns Homens de igualdade e muito respeito".
Não penso na sexualidade dos meus filhos, nas suas escolhas, isso não me diz respeito. A única coisa que sei é que estarei sempre presente, sempre que precisarem. E se um dia faltarem ao respeito a alguém eu também lá estarei para lhes puxar as orelhas e ter a certeza de que perceberam a lição.

Hoje falei-vos de mim e desta minha luta feminista, luta pela igualdade e respeito porque acho que antes de educar os nossos filhos devemos ter as definições certas de cada luta que abraçamos e acima de tudo ter convicções bem definidas para as podermos ensinar a quem pode fazer a diferença no futuro. Afinal são estas lições de vida que lhes podemos dar como herança valiosa.
Para que isto não se torne um livro, num outro texto falarei da educação do pai e depois a educação dos filhos.

Não escrevi nada disto para vos dar lições de vida, isso guardo para aqueles que dependem da educação que dou. Escrevi isto na esperança de fazer com que quem me lê pare para reflectir sobre as suas acções, as suas convicções e pensamentos. 


Vamos ganhar coragem para questionar-nos?

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