Estrangeiros, somos todos?

6.3.18


Quem nos segue no Instagram leu provavelmente o meu desabafo sobre a minha experiência quando regressei a Portugal pela primeira vez, aos 16 anos. De inicio, confesso que não foi fácil, mas apesar de ser sempre "a estrangeira" (em qualquer país) acabei por me adaptar da melhor maneira possível a cada país onde fui parar.
Não confundam adaptar com o aceitar tudo e passar a achar que tudo é fantástico e que não existem defeitos nos países. Existem sim e nem sempre são criticas, muito menos pontos que nos fazem sentir infelizes. Se assim fosse, pegávamos na bagagem e iriamos em busca de algo que nos correspondesse, como sempre o fizemos.

Mas, tudo isto começou quando li testemunhos de pessoas de nacionalidades diferentes que contavam quais as suas experiências em Portugal.
Viajei no tempo, não só por mim, mas também pelos meus filhos, que desde cedo passaram da Bélgica para Portugal e depois para a Suíça. Deixo-vos um texto que escrevi acerca da experiência dos meus filhos ao chegar à Suiça:

"Este tem sido o meu dilema ultimamente.
Primeiro, deixei-me invadir pelos medos, remorsos e sentimento de culpa que fui vivendo nestes primeiros meses de vida na Suiça... tudo isto pelas mudanças que fiz e ainda faço passar às minhas crias...

Estes três piolhos não falavam uma única palavra em francês, nunca tinham lidado com tamanha mudança numa idade em que já sentem na pele todas as alterações que a vida "sofre".
Ultimamente há um chico-esperto na escola que bateu por três vezes no T. mais velho, ele nunca foi criança de bater e não gosta de confusões, mas sempre foi ensinado também a ir ter com um adulto e dizer o que lhe tinham feito, mas desta vez, chegou a casa e contou-me que não o fez porque não sabia explicar e não se sabia defender verbalmente.
Alguém por aí consegue imaginar o que senti quando lhe ensinei "il m'a frappé"?

Passo a vida a perguntar-lhes se se sentem bem, se estão felizes, mas por mais que me digam que sim, sinto-me sempre com o coração apertado, sempre com medo de estar a cometer uma mudança demasiado grande na vida deles.

Sinto-me culpada por ter estado tão presente na vida deles enquanto trabalhei em casa e agora, nesta fase tão delicada, ter de voltar a estar mais ausente para trabalhar no exterior...
Espero que me perdoem, a ausência, a mudança, a insistência em querer saber se estão felizes, T's perdoem-me, apenas quero que saibam que dei e tentarei sempre dar o meu melhor para que vocês consigam ser uns adultos quase perfeitos e MUITO felizes.

A internet tem destas coisas boas, guarda palavras durante anos a fio e quem sabe um dia vocês estarão por aqui a ler os medos que a vossa mãe faz questão de tentar esconder...
Hoje quero apenas tentar acreditar que isto vai passar e que um dia direi que fiz a escolha certa."

Posso dizer-vos que hoje sinto que eles se sentem bem por aqui, falamos várias vezes acerca de um próximo país onde poderiamos viver, mas eles apenas falam em visitar. Acho que por aqui se sentem em casa, mesmo conhecendo as suas origens e falando outras línguas é aqui que estão a criar as suas raízes.
Eles não se sentem diferentes e isso é para mim o mais importante. Aquela aldeia de quando aqui chegámos não faz mais parte da nossa vida e acho que é ótimo para eles terem não só na escola, mas também no seu circulo de amigos.
Sempre ensinei os meus filhos que todos somos estrangeiros, que todos somos nascidos na mesma terra, que todos somos iguais, que todos somos um todo. E acho de coração que isto tem feito a diferença na construção dos futuros adultos que eles serão.
Também por aí fazem questão de ensinar aos vossos filhos que somos todos fruto da mesma terra?



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